Crise e transformações nos séculos XIV e XV

A partir do século XI, um grande aumento demográfico ocorreu na Europa Ocidental, devido, entre outros fatores, ao fim de grandes invasões que a região conhecera. Tal fator trouxe problemas de abastecimento, pois o sistema feudal começou a apresentar limites, que foram superados com o desenvolvimento das técnicas de atrelagem de animais, a invenção da charrua e a generalização do sistema de pousio. Desta forma, terras mais difíceis puderam ser largamente aproveitadas. As áreas de solos argilosos passaram a se tornar agricultáveis, ao mesmo tempo em que pântanos eram drenados, florestas derrubadas, áreas de pastagens transformadas em áreas de agricultura.
As mudanças técnicas citadas garantiram o aumento da produção e, ao mesmo tempo, liberaram mão de obra. Os trabalhadores que agora não eram mais necessários no campo dedicaram-se ao artesanato e foram os principais responsáveis pela criação das cidades no século XI.
No final do século XIII, os europeus começaram a sentir os efeitos negativos de todo esse processo. Com efeito, a eliminação das florestas provocou danos ao meio ambiente, destacando-se a mudança no regime de chuvas. Dessa forma, períodos de seca, seguidos de chuva intensa, tornaram difícil a vida dos camponeses, que viam suas colheitas sendo arruinadas pelas condições adversas do clima.
A fome começou a rondar os lares das pessoas mais pobres, mas não apenas elas foram afetadas.
Uma nova epidemia oriunda, ao que tudo indica, do Oriente por meio dos navios italianos, atingiu a Europa em 1348. Era a peste bubônica, transmitida pelas pulgas dos ratos, que ficou também conhecida como a Peste Negra. Calcula-se que cerca de um terço da população europeia pereceu.
A carência de meios e de informação para combater a enfermidade e o pânico provocado pela mortandade generalizada geraram muitas mudanças no comportamento da sociedade. A peste era vista como um castigo divino. Muitos acreditavam que viver isolados em suas casas, em penitência, os manteriam a salvo da doença. Outros se entregavam intensamente aos prazerem, certos de que ninguém sobreviveria à epidemia.

O desespero passou a tomar conta da população, agravado ainda pelo aumento da exploração. Essa exploração acentuada se devia ao fato de que a nobreza também foi afetada pelos problemas na terra. Com a baixa produtividade e más colheitas, as rendas dos nobres diminuíram sensivelmente, exatamente no momento em que o desenvolvimento da atividade comercial apresentava-lhes enorme quantidade de novos produtos que os mesmos desejavam consumir. Com seus rendimentos declinando, os senhores feudais passaram a superexplorar os camponeses, exigindo que eles trabalhassem mais tempo nas reservas senhoriais. Este fator culminou em diversas revoltas camponesas, fuga dos mesmos, o que fez com que os rendimentos dos nobres diminuíssem ainda mais.
Procurando uma solução para este problema, diversos senhores propuseram a eliminação da corveia. Isso era feito por meio de um contrato, onde o camponês poderia usufruir de terra em troca de pagamento em produtos e, mais tarde, em dinheiro. A partir daí, as relações sociais passaram a se modificar e o feudalismo, portanto, perdia suas características fundamentais.
Houve também revoltas nas cidades, envolvendo os trabalhadores e os burgueses. A situação de insegurança foi fator importante para que os nobres se sentissem ameaçados e compreendessem que, para enfrentar os camponeses enfurecidos, era necessário um exército mais potente, mais bem armado - o qual eles não possuíam.
O temor da nobreza, aliado a outros fatores, contribuiu para que os reis pudessem, novamente, pensar em recuperar seus poderes. Com efeito, quem, senão um governante de um território mais vasto do que um feudo, disporia de recursos para manter um exército capaz de trazer a tranquilidade aos nobres?
Outro fator importante para a recentralização do poder real foi a guerra envolvendo os franceses e ingleses, que ficou conhecida como Guerra dos Cem Anos. Esse conflito, na realidade, durou bem mais, pois teve início em 1337 e só se encerrou em 1453. Foi provocado  pelas disputas dinásticas entre soberanos ingleses e franceses, além do interesse na região de Flandres. Desenvolveu-se em várias etapas e na primeira os ingleses obtiveram expressivas vitórias. Na segunda, os franceses conseguiram recuperar os territórios que haviam perdido. Na terceira, novamente, os ingleses obtiveram vitórias e, finalmente, na quarta e última etapa do conflito, a vitória coube aos franceses. Foi nessa guerra que surgiu uma figura mitológica: Joana d'Arc, até hoje considerada uma heroína francesa.