Era da Ilustração
Europa do Antigo Regime
No século XVIII, a sociedade européia era profundamente desigual e hierarquizada. Na política, os países eram governados por reis absolutistas, e o clero e a nobreza formavam os grupos dominantes. Estes eram donos das maiores propriedades e não pagavam impostos desde a época feudal. Muitos deles desfrutavam de uma vida alegre e luxuosa na Corte que circundava o rei.
O povo era formado de camponeses, trabalhadores urbanos, burgueses e um amplo setor de desocupados. Além de não possuir direitos políticos, os plebeus arcavam com o peso de TODOS os impostos.
A posição social (estamento) de um indivíduo era determinada pela origem, pelo nascimento. Assim, era quase nula a possibilidade de mudar de estamento. Por isso, a sociedade do Antigo Regime era chamada de estamental.
A maioria dos países europeus era governada por reis absolutistas, que concentravam amplos poderes nas mãos. As instituições representativas do corpo social, como os Estados Gerais e as Cortes, quase nunca se reuniam e raramente limitavam o poder monárquico. Tanto a rígida divisão social como o poder absoluto dos reis eram apresentados como expressão da vontade de Deus. Assim, toda a crítica à organização social e política era considerada desobediência dos desígnios divinos.
A reação iluminista
O movimento iluminista, também conhecido como Ilustração, foi uma reação ao Antigo Regime, criticado por manter as velhas estruturas feudais, em particular a influência política e cultural da Igreja, os privilégios da nobreza, a servidão no campo, os monopólios comerciais de certas corporações e do Estado e a censura às ideias “perigosas”.
Os primeiros questionamentos que abalariam a velha ordem ganharam corpo na Inglaterra do século XVII, em meio às revoluções Puritana (1640) e Gloriosa (1689).
Nesse contexto, o filósofo inglês John Locke (1632-1704) definiu as bases do pensamento político liberal ao propor que os governos nasciam de um pacto com a sociedade. Esta aceitava ser governada para superar conflitos resultantes de interesses de seus integrantes. Já o governo se comprometia a corresponder aos interesses comuns. Caso contrário, seria revogado.
Na França do século XVIII, essas reflexões seriam levadas adiante por diferentes pensadores franceses, os iluministas. O nome Iluminismo originou-se da idéia de que a Europa vivia,desde a época medieval, em um longo período de trevas, resultado do controle da Igreja sobre a cultura e a sociedade. Na visão dos iluministas, só a razão poderia colocar a história humana no caminho da luz.
Não tenha medo de usar o intelecto!
Essa frase resume o espírito da Ilustração. Na visão iluminista, o ser humano, ao deixar de usar o pensamento racional, permitia que o misticismo e as superstições o mantivessem na ignorância.
Os iluministas travavam uma batalha permanente contra a ignorância. Defendiam a educação do povo, a criação de escolas para todos e a liberdade religiosa. Os ilustrados tinham uma visão otimista sobre a capacidade humana de criar um mundo melhor, realizar inventos e controlar a natureza por meio da ciência.
Divulgar o conhecimento era a principal atividade dos iluministas. Essa preocupação os levou a realizar as Enciclopédias, uma grande obra de 35 volumes, impressa entre 1751 e 1780, que continha um resumo de todo o saber existente até então. Por isso, os ilustrados também ficaram conhecidos como os enciclopedistas.
Os mais importantes pensadores iluministas franceses foram Diderot, D’Alembert, Rousseau, Montesquieu e Voltaire. Seus contemporâneos ingleses, Adam Smith e David Ricardo, destacaram-se no campo da economia, definindo preceitos teóricos fundamentais para o desenvolvimento futuro do capitalismo.
Principais pensadores iluministas
François-Marie Arouet (Voltaire)
Principal Obra – Cartas inglesas
Conteúdo – Ataques ao absolutismo e à intolerância religiosa e defesa da liberdade de expressão.
Denis Diderot e Jean D’Alembert
Principal Obra – Enciclopédia
Conteúdo – Dicionário ilustrado de todo o conhecimento ocidental da época.
Charles Louis de Secondat
Principal Obra – O espírito das leis
Conteúdo – Crítica ao poder absoluto dos reis e defesa dos três poderes : Legislativo, Executivo e Judiciário.
Jean Jacques Rousseau
Principal Obra - Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens.
Conteúdo – Crítica ao poder absolutista e defesa da soberania popular ( governantes submetidos à vontade do povo ).
Adam Smith
Principal Obra - Investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações
David Ricardo
Principal Obra – Princípios de economia política e tributação
Ambas as últimas obras criticam o mercantilismo e defendem o liberalismo econômico (não interferência do Estado na economia).
O despotismo esclarecido
Inspirados pelas novas correntes de pensamento, liberais e ilustradas, diversos monarcas europeus procuraram, na segunda metade do século XVIII, modernizar seus Estados. Não se tratava de relaxar o poder absoluto de que estavam investidos. O objetivo era promover reformas que tornassem a administração do reino mais eficiente e, assim, trouxessem felicidade a todos os súditos. Por se pautarem em ideias dos filósofos franceses, esses reis ficaram conhecidos como “déspotas esclarecidos”.
São considerados “déspotas esclarecidos” a rainha Catarina II, da Rússia, e os reis José I, de Portugal, Frederico II, da Prússia, José II, da Áustria, e Carlos III, da Espanha.
Carlos III, por exemplo, representante da dinastia dos Bourbon, que ocupou o trono espanhol entre 1759 e 1788, buscou aproximar seu reino das transformações modernizadoras em curso em outras partes da Europa, como a França e a Inglaterra. Empenhou-se em estreitar o controle administrativo e fiscal sobre as colônias espanholas na América, de forma que proporcionasse maiores lucros à metrópole. Com esse objetivo, expulsou os jesuítas da América espanhola, instituiu novos impostos e novas divisões governamentais, como Vice-Reino da Prata. Esperava, assim, criar condições para dinamizar a dependente economia metropolitana.
No plano cultural, Carlos III estimulou o debate sobre ideias ilustradas entre os intelectuais do reino, levando-os a rever aspectos do pensamento escolástico, que dominava as universidades espanholas desde os tempos medievais.
O liberalismo econômico
Em 1776 foi publicada a Investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações,de Adam Smith. A obra tornou-se a base do pensamento econômico liberal que se desenvolveria a partir daí, atacando as premissas do mercantilismo.
O mercantilismo, modelo que havia dominado as políticas econômicas européias nos primeiros séculos da modernidade, supunha a intervenção do Estado da economia para assegurar o enriquecimento nacional.
O liberalismo, ao contrário, com base no lema laissez faire,laissez passer ( deixa fazer, deixe passar), defendia que era preciso deixar a economia se autorregular. O mercado seria orientado pela lei da oferta e da procura. Ao mesmo tempo, em lugar dos metais preciosos que os Estados mercantilistas acumulavam como símbolo de riqueza, o trabalho passava a ser visto pelos liberais como a verdadeira geradora de riqueza.
A tese de Adam Smith valorizava o papel de cada indivíduo na dinâmica econômica, já que de suas iniciativas dependia o comportamento do mercado. Em um cenário de livre concorrência, abolidos os monopólios mercantilistas, caberia aos homens de talento e iniciativa conquistar novos mercados e criar novas demandas. Smith acreditava que, somando-se esses esforços, certas economias nacionais poderiam chegar muito mais longe do que permitiria o mercantilismo.